A
AVENTURA DE BRAGANÇA EM BICICLETA
Depois
de visitar a parte histórica de Bragança e á saída nos “saudar”
em forma de despedida numa rotunda da cidade as estátuas dos
caretos, seguimos para parque junto ao Rio Sabor onde acampámos
mesmo juntinho ao Rio. Seguimos estrada acima por lugares ou aldeias
perdidas no meio da Serra de Montesinho onde quase nada se passava e
os habitantes locais nos olhavam com surpresa as bicicletas bem
amaladas. Continuando a subir chegámos a Rio de Onor. Aldeia meio
Portuguesa, e meio Espanhola onde só os separa o marco da fronteira.
Muito fresca e acolhedora num dia de calor onde existem duas
“tascas”. Os seus proprietários rondam os setenta e alguns anos.
Sentámo-nos e almoçámos. E no fim alegremente bebemos o café e o
“chopito” caseiro. Esperava-nos outra grande subida até
Guadramil. Aldeia bem lá no canto do mapa de Portugal. Local onde á
chegada tocavam os sinos para a missa nesta aldeia com muito poucos
habitantes. E lá estava um senhor á sombra contando a sua vida de
trabalho em Espanha e da reforma na sua aldeia. Mudava-se de sombra
em sombra, criticando as pessoas que estariam na praia a apanhar
banhos de sol a olhar para o céu afirmando que seria melhor estar
ali. De subida em subida lá chegámos a Babe. Freguesia local enorme
mas com muito poucos habitantes. No restaurante local autorizou-nos a
acampar no seu grande espaço contíguo, facilitando um banho que
muito bem soube. Novo dia, e de pão necessitávamos, assim como o
café da manhã. Como não havia na aldeia a senhora amavelmente
ofereceu-nos o seu pão para o nosso alimento matinal afirmando que o
padeiro viria mais tarde.
Fomos
cortando trilhos, subindo e descendo em Direção a Vimioso e Miranda
do Douro. Sempre rasgando as aldeias Transmontanas onde abundam os
animais atravessando as ruas. Algures por uma delas surgiu á nossa
frente uma manada de vacas sem orientação ficando algumas
assustadas com o meu vermelho florescente da roupa de ciclista, e
outra olhando um pouco mais atrevida optei por me afastar.
Com o
calor intenso a água não podia faltar mas eram tantas as fontes que
as garrafas estavam sempre cheias.
Quintanilha
encrostada no monte de pedra seguimos até Miranda do Douro a
passagem por quintas e casebres. Terra da posta mirandesa que já
tinha saboreado em Babe. O Rio Douro a partir daí começa a estar ao
nosso lado. Caminhos abaixo, surge Sendim e Picote onde o Douro mais
uma vez era lindo de se ver, acompanhados pela guia do museu local
que também nos facultou a visita no seu interior.
Vila
de Bemposta no nosso trilho. Depois de um belo jantar eis que nos
sugeriram o parque do Rio Douro. Descidos 8 km. Lá estava o Douro
sozinho á espera da nossa companhia e também os únicos humanos que
por lá estavam. Já quase a anoitecer atravessamos o Rio até á
outra margem do lado Espanhol com água pelos joelhos. Acampámos sem
luz, e estávamos no meio da Natureza onde só se ouvia as rãs e
ruídos de pássaros. Deitado na pedra olhando as estrelas, tres
estrelas cadentes observei. Durante longo tempo estivemos a apreciar
o espço celestial noturno. Foram momentos únicos. Com uma noite
fabulosa, e cerca das quatro da manhã saí da tenda para ver de novo
a Natureza perfeita e tão bela que se espelhava na altura no Douro.
O quarto crescente da Lua.
Algures
numa outra aldeia descendo rua abaixo avistavam-se burros Mirandeses
acompanhados pelos seus tratadores. Tirámos fotos conversámos sobre
os seus animais. Rua mais abaixo surge de novo o tratador a sugerir
que nos vendia o Burro Mirandês por mil euros. Tal seria a
necessidade talvez da sua sobrevivência.
Descendo
sempre fronteira abaixo chegámos a Lagoaça onde pernoitámos. Belo
do jantar no restaurante aí fomos nós fazer o reconhecimento da
aldeia. Terra com casas senhoriais onde os seus habitantes se
colocavam á porta de suas casas em amena cavaqueira. Sendo nós
pessoas estranhas á aldeia comentavam connosco sobre a nossa
natureza.E o habitante que levava o seu macho (espécie de cavalo) a
beber água no bebedouro da aldeia informou-nos de todas as origens e
proezas da aldeia.
Após
noite bem dormida aí vamos estrada abaixo para Freixo de Espada A
Cinta. Vila histórica. Havia que a reconhecer bem melhor. Em visita
á Igreja matriz e no seu exterior qualquer coisa me surgiu
reconhecer. Parecia o Mosteiro dos Jerónimos em ponto pequeno.
Entrámos e logo se vislumbrou a tendência Manuelina no seu
interior, com arquitetura muito interessante do século16. Ao saír,
o senhor que estava na receção aborda-nos começando por nos
sensibilizar sobre as origens da igreja e da própria terra. Cerca de
uma hora que esteve connosco expelindo todos os seus conhecimentos
locais. Gostava por aqui agradecer a este senhor o tempo que
dispensou connosco.
Seguimos
em em frente até Barca de Alva. Um senhor no café em Freixo
informou-nos que a temperatura pelo Rio Douro até Barca de Alva
seria sempre 6 ou 7 vezes mais que em Freixo. E ouvir tal informação
olhei o termómetro que trago permanentemente na bicicleta e lá
estavam 45 graus. De certa forma ignorei. Talvez fosse forma de
pensar da pessoa já que a descida era ali bem perto. Partimos e
começámos a descer e a temperatura era tal que mesmo a descer sem
pedalar quase se sentia ar de fogo. Olhei o termómetro e lá
estavam, uma vez 50, e outra 52. Chegámos a Barca de Alva. Local
onde descansámos bastante tempo. Terminámos o dia em Figueira de
Castelo Rodrigo. Nos bombeiros solicitámos um banho e de seguida
ofereceram-nos os seus aposentos do quartel. Foram pessoas
espetaculares e deram-nos o seu melhor que foi o seu carinho. Para o
Comandante e seus colegas também um grande obrigado pela receção.
Havia
que seguir no outro dia para Vilar Formoso. Por Castelo Rodrigo
havíamos de ir para tomar o café do costume num espaço único na
aldeia histórica. Não tivemos muita sorte na receção ao local
pois encontrava-se um autocarro do Douro azul com turistas no local e
a fazerem provas de vinho. Já lá estive várias vezes e é um local
aprazível para se desfrutar da paisagem e beleza local. Era imensa a
confusão.
Seguimos
para Almeida. Vila acastelada, muito interessante. Depois de
descansar um pouco no interior do seu jardim deslocámo-nos ao bar
para deliciar um gelado. Reconheci o proprietário, e em amena
conversa logo me reconheceu também desde a minha última paragem por
lá há três anos. Também com o vicio da bicicleta, logo se sentou
a nosso lado no exterior do seu bar com sua esposa solicitando também
o que nos motivou para tal proeza ciclística. Fez questão de ver a
nossa partida e assim observar o nosso meio de transporte.
Alcançámos
Vilar Formoso. Última etapa do Fernando e organizada a sua saída
para Lisboa no dia seguinte fomos procurar alojamento num parque para
autocaravanas que nos foi facultado pelo proprietário informando que
não pagaríamos qualquer quantia pela noite ali passada. Aqui
próximo surgiu o único acidente da viagem. Uma senhora taxista que
numa avenida local decidiu virar para outra rua á direita sem se
aperceber que vinham ciclistas em transição. Fui contra a sua
viatura tendo causado grande mossa na sua carroçaria e que depois me
queria culpabilizar pelo ato. Após alguma tensão reconheceu o seu
ato e ficou resolvida a questão.
De
Vilar Formoso para o Sabugal parto sozinho junto á fronteira. Achei
muito interessante, pois neste local surgem marcos com (P) e (E),
localizando a sua divisão. De um lado é estrada alcatroada
Portuguesa e do outro é estrada ou caminho em terra batida na parte
Espanhola. Mais algumas aldeia pelo caminho e começando já a notar
a diferença regional, entre Trás o Montes e Beira Alta. Quase
sempre plano até Aldeia da Ponte. Aldeia muito interessante. Talvez
de todas por onde passei a que mais gostei. Pela sua dimensão. Pela
sua beleza. A igreja Matriz tem uma característica quanto a mim
própria. Andei por um carreiro ou ciclovia único entre casas e
estreito e que muito apreciei. Nas várias deslocações que tenho
feito nuca vi igual. A ponte que dá o nome á aldeia e a sua área
circundante é magnífica. O ribeiro e a sua represa com as suas
flores de água verdejantes. De salientar o pequeno cemitério murado
com capela julgo secular também muito interessante embora no seu
interior o seu espaço campanário esteja coberto de ervas daninhas.
Também o convento local enorme se encontra em fase de queda, o que é
pena.
De
lembrar que nesta aldeia é oriunda uma ex. colega minha de trabalho.
Sabia que por estes dias passaria por lá. Ao Fim do dia contactou-me
informando que me tinha visto na aldeia e que me encontrou também na
estrada mas não me reconheceu. Quando consultou a minha página do
Facebook reconheceu a foto da ponte da aldeia e aí percebeu que era
eu. Logo me enviou o telefone e combinámos o encontro no Sabugal á
noite em que fomos tomar o café e por a conversa em dia. Obrigado,
Fátima e Jorge pela vossa disponibilidade e apoio.
Seguindo
em frente em direção ao Soito, por Alfaiates passei. A estátua do
touro á beira da estrada me esperava cheio de originalidade. O seu
castelo e a sua praça com os espaços de feiras quase originais
porque por outro lado encontrei também um espaço idêntico. Aldeia
ou Vila pequena mas mereceu a visita. Mais á frente uma praia de rio
onde muita gente se banhava com o calor que estava. Ao Soito cheguei.
Vila ou aldeia bem grande coberta de bastantes negócios tal como se
vê pela sua extensão.
Ao
Sabugal cheguei. Nascente do Rio Côa com sua praia fluvial e árvores
verdejantes em seu redor. Pelas ruelas circulei e apreciei a calma
dos seus conterrâneos aprazíveis a quem chega á sua terra. Nos
Bombeiros solicitei um banho nos seus balneáreos e logo me foi
oferecido estadia, sala de computador e wifi e até computador se
fosse necessário. Ao seu Comandante do quartel e seus colegas também
um muito obrigado pela receção.
Alterei
a rota prevista e a próxima paragem será Castelo Branco com
passagem por Penamacor. Cerca de 90 km. Por Meimoa passei junto na
Serra da Malcata. Mais um local muito aprazível com a sua área
fluvial. Penamacor fica um pouco mais acima onde fui abastecer de
alimentos. Vila muito típica um pouco lá no alto. Na mercearia os
clientes olhavam os meus cabelos brancos e questionando entre si a
minha aventura ao mesmo tempo reparando na minha bicicleta no
exterior do estabelecimento. Precisava de um só yoghurte, pois não
podia trazer mais devido ao calor. Solicitei á empregada se podia
vender um, ao que referiu que só podia vender quatro. Ao explicar
porque só queria um, parou um pouco para pensar e citou.
- Não faz mal. Não
costumo beber destes mas eu compro os três e o Sr. leva um.
Muito agradecido fiquei
pela boa vontade e interesse que aquelas pessoas demonstraram em
ajudar. Também, bem ao modo Beirão um grande “Bem Haja”. E
assim segui para a etapa que acabou por ser a final até Castelo
Branco. Talvez a pior etapa que tive. O parque longe do centro e fui
o único campista no seu interior com os espaços verdejantes sim,
mas de ervas. Sem restaurante ou bar, piscina etc. Desloquei-me a pé
até ao início da cidade para jantar e nada se encontrava por ali
tendo de seguir até ao centro histórico onde encontrei então dois
abertos. Ruas sem movimento mais parecendo uma cidade fantasma.
Voltei ao parque.No dia seguinte iria em direção a Nisa. Fui
pensando melhor e cheguei á conclusão que seria melhor acabar a
aventura ali e não seguir para Carnaxide. Já conheço parte do
caminho e dos locais, e agora seria só para pedalar. Visitas locais
poucas faria, e provavelmente também em ambientes fantasmagóricos.
Gosto ou adoro pedalar mas também com o objetivo de conhecer pessoas
e coisas fora do comum do dia a dia. E assim seguindo em frente
também seria mais 4 dias. Então a opção que era a 2ª foi entrar
na estação de comboios e comprar o bilhete de regresso a Lisboa.
Chegado a Santa Apolónia, não quis pedir boleia a ninguém.
Devagar, devagarinho lá fui Tejo abaixo pela via que já conheço á
longo tempo. Em Belém e em forma de despedida tomei o meu último
café da aventura no bar onde de vez em quando costumo frequentar.
Assim foram 11 dias
especiais e espetaculares onde desfrutei grandemente a Natureza e a
aventura. Juntando tudo o que existe de bom com a pouca despesa que
também objetivei. Assim também apreciando, ou procurando um pouco o
caso de sobrevivência em caso de necessidade, um dia. É bastante
diferente fazer este tipo de evento em bicicleta ou automóvel. Assim
se passa por locais onde os automóveis não vão e por isso se
passam coisas que não se assiste de outra forma.
José Garcia Júnior
2013-07-10