quinta-feira, 11 de julho de 2013


A AVENTURA DE BRAGANÇA EM BICICLETA



Depois de visitar a parte histórica de Bragança e á saída nos “saudar” em forma de despedida numa rotunda da cidade as estátuas dos caretos, seguimos para parque junto ao Rio Sabor onde acampámos mesmo juntinho ao Rio. Seguimos estrada acima por lugares ou aldeias perdidas no meio da Serra de Montesinho onde quase nada se passava e os habitantes locais nos olhavam com surpresa as bicicletas bem amaladas. Continuando a subir chegámos a Rio de Onor. Aldeia meio Portuguesa, e meio Espanhola onde só os separa o marco da fronteira. Muito fresca e acolhedora num dia de calor onde existem duas “tascas”. Os seus proprietários rondam os setenta e alguns anos. Sentámo-nos e almoçámos. E no fim alegremente bebemos o café e o “chopito” caseiro. Esperava-nos outra grande subida até Guadramil. Aldeia bem lá no canto do mapa de Portugal. Local onde á chegada tocavam os sinos para a missa nesta aldeia com muito poucos habitantes. E lá estava um senhor á sombra contando a sua vida de trabalho em Espanha e da reforma na sua aldeia. Mudava-se de sombra em sombra, criticando as pessoas que estariam na praia a apanhar banhos de sol a olhar para o céu afirmando que seria melhor estar ali. De subida em subida lá chegámos a Babe. Freguesia local enorme mas com muito poucos habitantes. No restaurante local autorizou-nos a acampar no seu grande espaço contíguo, facilitando um banho que muito bem soube. Novo dia, e de pão necessitávamos, assim como o café da manhã. Como não havia na aldeia a senhora amavelmente ofereceu-nos o seu pão para o nosso alimento matinal afirmando que o padeiro viria mais tarde.

Fomos cortando trilhos, subindo e descendo em Direção a Vimioso e Miranda do Douro. Sempre rasgando as aldeias Transmontanas onde abundam os animais atravessando as ruas. Algures por uma delas surgiu á nossa frente uma manada de vacas sem orientação ficando algumas assustadas com o meu vermelho florescente da roupa de ciclista, e outra olhando um pouco mais atrevida optei por me afastar.

Com o calor intenso a água não podia faltar mas eram tantas as fontes que as garrafas estavam sempre cheias.

Quintanilha encrostada no monte de pedra seguimos até Miranda do Douro a passagem por quintas e casebres. Terra da posta mirandesa que já tinha saboreado em Babe. O Rio Douro a partir daí começa a estar ao nosso lado. Caminhos abaixo, surge Sendim e Picote onde o Douro mais uma vez era lindo de se ver, acompanhados pela guia do museu local que também nos facultou a visita no seu interior.

Vila de Bemposta no nosso trilho. Depois de um belo jantar eis que nos sugeriram o parque do Rio Douro. Descidos 8 km. Lá estava o Douro sozinho á espera da nossa companhia e também os únicos humanos que por lá estavam. Já quase a anoitecer atravessamos o Rio até á outra margem do lado Espanhol com água pelos joelhos. Acampámos sem luz, e estávamos no meio da Natureza onde só se ouvia as rãs e ruídos de pássaros. Deitado na pedra olhando as estrelas, tres estrelas cadentes observei. Durante longo tempo estivemos a apreciar o espço celestial noturno. Foram momentos únicos. Com uma noite fabulosa, e cerca das quatro da manhã saí da tenda para ver de novo a Natureza perfeita e tão bela que se espelhava na altura no Douro. O quarto crescente da Lua.

Algures numa outra aldeia descendo rua abaixo avistavam-se burros Mirandeses acompanhados pelos seus tratadores. Tirámos fotos conversámos sobre os seus animais. Rua mais abaixo surge de novo o tratador a sugerir que nos vendia o Burro Mirandês por mil euros. Tal seria a necessidade talvez da sua sobrevivência.

Descendo sempre fronteira abaixo chegámos a Lagoaça onde pernoitámos. Belo do jantar no restaurante aí fomos nós fazer o reconhecimento da aldeia. Terra com casas senhoriais onde os seus habitantes se colocavam á porta de suas casas em amena cavaqueira. Sendo nós pessoas estranhas á aldeia comentavam connosco sobre a nossa natureza.E o habitante que levava o seu macho (espécie de cavalo) a beber água no bebedouro da aldeia informou-nos de todas as origens e proezas da aldeia.

Após noite bem dormida aí vamos estrada abaixo para Freixo de Espada A Cinta. Vila histórica. Havia que a reconhecer bem melhor. Em visita á Igreja matriz e no seu exterior qualquer coisa me surgiu reconhecer. Parecia o Mosteiro dos Jerónimos em ponto pequeno. Entrámos e logo se vislumbrou a tendência Manuelina no seu interior, com arquitetura muito interessante do século16. Ao saír, o senhor que estava na receção aborda-nos começando por nos sensibilizar sobre as origens da igreja e da própria terra. Cerca de uma hora que esteve connosco expelindo todos os seus conhecimentos locais. Gostava por aqui agradecer a este senhor o tempo que dispensou connosco.

Seguimos em em frente até Barca de Alva. Um senhor no café em Freixo informou-nos que a temperatura pelo Rio Douro até Barca de Alva seria sempre 6 ou 7 vezes mais que em Freixo. E ouvir tal informação olhei o termómetro que trago permanentemente na bicicleta e lá estavam 45 graus. De certa forma ignorei. Talvez fosse forma de pensar da pessoa já que a descida era ali bem perto. Partimos e começámos a descer e a temperatura era tal que mesmo a descer sem pedalar quase se sentia ar de fogo. Olhei o termómetro e lá estavam, uma vez 50, e outra 52. Chegámos a Barca de Alva. Local onde descansámos bastante tempo. Terminámos o dia em Figueira de Castelo Rodrigo. Nos bombeiros solicitámos um banho e de seguida ofereceram-nos os seus aposentos do quartel. Foram pessoas espetaculares e deram-nos o seu melhor que foi o seu carinho. Para o Comandante e seus colegas também um grande obrigado pela receção.

Havia que seguir no outro dia para Vilar Formoso. Por Castelo Rodrigo havíamos de ir para tomar o café do costume num espaço único na aldeia histórica. Não tivemos muita sorte na receção ao local pois encontrava-se um autocarro do Douro azul com turistas no local e a fazerem provas de vinho. Já lá estive várias vezes e é um local aprazível para se desfrutar da paisagem e beleza local. Era imensa a confusão.

Seguimos para Almeida. Vila acastelada, muito interessante. Depois de descansar um pouco no interior do seu jardim deslocámo-nos ao bar para deliciar um gelado. Reconheci o proprietário, e em amena conversa logo me reconheceu também desde a minha última paragem por lá há três anos. Também com o vicio da bicicleta, logo se sentou a nosso lado no exterior do seu bar com sua esposa solicitando também o que nos motivou para tal proeza ciclística. Fez questão de ver a nossa partida e assim observar o nosso meio de transporte.

Alcançámos Vilar Formoso. Última etapa do Fernando e organizada a sua saída para Lisboa no dia seguinte fomos procurar alojamento num parque para autocaravanas que nos foi facultado pelo proprietário informando que não pagaríamos qualquer quantia pela noite ali passada. Aqui próximo surgiu o único acidente da viagem. Uma senhora taxista que numa avenida local decidiu virar para outra rua á direita sem se aperceber que vinham ciclistas em transição. Fui contra a sua viatura tendo causado grande mossa na sua carroçaria e que depois me queria culpabilizar pelo ato. Após alguma tensão reconheceu o seu ato e ficou resolvida a questão.

De Vilar Formoso para o Sabugal parto sozinho junto á fronteira. Achei muito interessante, pois neste local surgem marcos com (P) e (E), localizando a sua divisão. De um lado é estrada alcatroada Portuguesa e do outro é estrada ou caminho em terra batida na parte Espanhola. Mais algumas aldeia pelo caminho e começando já a notar a diferença regional, entre Trás o Montes e Beira Alta. Quase sempre plano até Aldeia da Ponte. Aldeia muito interessante. Talvez de todas por onde passei a que mais gostei. Pela sua dimensão. Pela sua beleza. A igreja Matriz tem uma característica quanto a mim própria. Andei por um carreiro ou ciclovia único entre casas e estreito e que muito apreciei. Nas várias deslocações que tenho feito nuca vi igual. A ponte que dá o nome á aldeia e a sua área circundante é magnífica. O ribeiro e a sua represa com as suas flores de água verdejantes. De salientar o pequeno cemitério murado com capela julgo secular também muito interessante embora no seu interior o seu espaço campanário esteja coberto de ervas daninhas. Também o convento local enorme se encontra em fase de queda, o que é pena.

De lembrar que nesta aldeia é oriunda uma ex. colega minha de trabalho. Sabia que por estes dias passaria por lá. Ao Fim do dia contactou-me informando que me tinha visto na aldeia e que me encontrou também na estrada mas não me reconheceu. Quando consultou a minha página do Facebook reconheceu a foto da ponte da aldeia e aí percebeu que era eu. Logo me enviou o telefone e combinámos o encontro no Sabugal á noite em que fomos tomar o café e por a conversa em dia. Obrigado, Fátima e Jorge pela vossa disponibilidade e apoio.

Seguindo em frente em direção ao Soito, por Alfaiates passei. A estátua do touro á beira da estrada me esperava cheio de originalidade. O seu castelo e a sua praça com os espaços de feiras quase originais porque por outro lado encontrei também um espaço idêntico. Aldeia ou Vila pequena mas mereceu a visita. Mais á frente uma praia de rio onde muita gente se banhava com o calor que estava. Ao Soito cheguei. Vila ou aldeia bem grande coberta de bastantes negócios tal como se vê pela sua extensão.

Ao Sabugal cheguei. Nascente do Rio Côa com sua praia fluvial e árvores verdejantes em seu redor. Pelas ruelas circulei e apreciei a calma dos seus conterrâneos aprazíveis a quem chega á sua terra. Nos Bombeiros solicitei um banho nos seus balneáreos e logo me foi oferecido estadia, sala de computador e wifi e até computador se fosse necessário. Ao seu Comandante do quartel e seus colegas também um muito obrigado pela receção.

Alterei a rota prevista e a próxima paragem será Castelo Branco com passagem por Penamacor. Cerca de 90 km. Por Meimoa passei junto na Serra da Malcata. Mais um local muito aprazível com a sua área fluvial. Penamacor fica um pouco mais acima onde fui abastecer de alimentos. Vila muito típica um pouco lá no alto. Na mercearia os clientes olhavam os meus cabelos brancos e questionando entre si a minha aventura ao mesmo tempo reparando na minha bicicleta no exterior do estabelecimento. Precisava de um só yoghurte, pois não podia trazer mais devido ao calor. Solicitei á empregada se podia vender um, ao que referiu que só podia vender quatro. Ao explicar porque só queria um, parou um pouco para pensar e citou.

- Não faz mal. Não costumo beber destes mas eu compro os três e o Sr. leva um.

Muito agradecido fiquei pela boa vontade e interesse que aquelas pessoas demonstraram em ajudar. Também, bem ao modo Beirão um grande “Bem Haja”. E assim segui para a etapa que acabou por ser a final até Castelo Branco. Talvez a pior etapa que tive. O parque longe do centro e fui o único campista no seu interior com os espaços verdejantes sim, mas de ervas. Sem restaurante ou bar, piscina etc. Desloquei-me a pé até ao início da cidade para jantar e nada se encontrava por ali tendo de seguir até ao centro histórico onde encontrei então dois abertos. Ruas sem movimento mais parecendo uma cidade fantasma. Voltei ao parque.No dia seguinte iria em direção a Nisa. Fui pensando melhor e cheguei á conclusão que seria melhor acabar a aventura ali e não seguir para Carnaxide. Já conheço parte do caminho e dos locais, e agora seria só para pedalar. Visitas locais poucas faria, e provavelmente também em ambientes fantasmagóricos. Gosto ou adoro pedalar mas também com o objetivo de conhecer pessoas e coisas fora do comum do dia a dia. E assim seguindo em frente também seria mais 4 dias. Então a opção que era a 2ª foi entrar na estação de comboios e comprar o bilhete de regresso a Lisboa. Chegado a Santa Apolónia, não quis pedir boleia a ninguém. Devagar, devagarinho lá fui Tejo abaixo pela via que já conheço á longo tempo. Em Belém e em forma de despedida tomei o meu último café da aventura no bar onde de vez em quando costumo frequentar.

Assim foram 11 dias especiais e espetaculares onde desfrutei grandemente a Natureza e a aventura. Juntando tudo o que existe de bom com a pouca despesa que também objetivei. Assim também apreciando, ou procurando um pouco o caso de sobrevivência em caso de necessidade, um dia. É bastante diferente fazer este tipo de evento em bicicleta ou automóvel. Assim se passa por locais onde os automóveis não vão e por isso se passam coisas que não se assiste de outra forma.





José Garcia Júnior

2013-07-10